"Existe um remédio que, se fosse adoptado global e espontaneamente, pela maioria dos povos dos numerosos países, poderia, como por milagre, transformar por completo a situação e fazer toda a Europa, ou a maior parte dela, tão livre e feliz como a Suíça dos nossos dias. Qual é esse remédio soberano? Consiste em reconstituir a família europeia ou, pelo menos, enquanto não podemos reconstruí-la, dotá-la de uma estrutura que lhe permita viver e crescer em paz, em segurança e em liberdade. Devemos criar uma espécie de Estados Unidos da Europa. (...) Para realizar esta tarefa urgente, a França e a Alemanha devem reconciliar-se."
Discurso de Winston Churchill na Universidade de Zurique a 19 de Setembro de 1946, conotado para muitos como “o pontapé de saída” para a integração europeia.
O projecto de integração europeia iniciou-se há cinquenta anos. Após séculos de guerras e rivalidades, a sua coluna vertebral reside no eixo entre a França e a Alemanha, comprometidas a ultrapassar os erros do passado que resultaram em milhões de mortos, duas guerras mundiais e instabilidade para o velho continente. Por isso, a sucesso do projecto europeu reside, em boa medida, na sua memória histórica. Mas reside também e essencialmente, nos sucessos do presente, porque o compromisso assumido inicialmente por 6 e finalmente, depois dos sucessivos alargamentos, por 27, possibilitou-nos cinquenta anos de paz, de progresso e de estabilidade. A Europa integrada construi-se como um modelo que conjuga em boa medida liberdade, democracia, justiça, paz, respeito pelos direitos humanos, e bem-estar social para os seus cidadãos. Mas a Europa é também o berço de ideias, culturas e contradições. Conjuga em si um modelo liberal e um modelo social que se complementam. É esta a sua essência, e daí advém a sua capacidade de atracção.
Os líderes europeus foram sempre encontrando a capacidade de superar crises e impasses, recordando a sua história sem se perderem nela, construindo diariamente um projecto comum. Crise motivada pelos “nãos” dos referendos francês e holandês à ratificação do Tratado Constitucional? Prefiro a palavra impasse, pois os líderes continuaram a procurar uma nova estrutura institucional, a UE continuou a funcionar regularmente e ainda encontrou forças para se alargar à Bulgária e à Roménia. Aliás, mesmo numa verdadeira crise, quando entre 1965 e 1966 o Presidente De Gaulle abandonou durante seis meses a sua cadeira no Conselho no ficaria conhecida como a “crise da cadeira vazia”, e as instituições ficaram paralisadas, o compromisso do Luxemburgo conseguiu ajudar a superar a situação. Por isso, aos líderes europeus apenas se pede que encontrem um novo compromisso, realista e consciente, mais próximo dos cidadãos. Porque este impasse também teve alguns méritos: mostrar aos líderes europeus a distância que os separa dos cidadãos e pôr os cidadãos a debater o futuro da Europa, contribuindo para a sua consciencialização de cidadãos europeus.
Por tudo isto eu digo: parabéns Europa!