sexta-feira, fevereiro 23, 2007

COMEDIA DELL' ARTE

Itália, berço da civilização europeia e membro fundador das Comunidades Europeias, atravessa agora mais uma das suas já famosas crises.

Com 61 governos desde 1945, nos últimos anos o país aparentava ter atingido alguma estabilidade governativa com o curioso “consulado” de Berlusconi a durar 6 anos. Porém, os seus pontapés no Estado de Direito e na ética política acabaram por levar à sua derrota e a permitir a ascensão do ex-Presidente da Comissão Europeia à liderança de uma coligação governamental que reúne nove partidos com grandes diferenças entre si, mas unidos na vontade de afastar Il Cavaliere.

Assim, era inevitável que o país recuperasse a sua tradição de instabilidade governativa e a discussão sobre a permanência das forças italianas no Afeganistão foi o mote para o estalar da crise. No essencial, a questão que levou à crise no governo italiano, prende-se com a dificuldade dos governos europeus em alinharem com a administração Bush e agradarem às suas opiniões públicas. Romano Prodi, que já retirara as tropas italianas do Iraque (tal como José Luís Zapatero também o fizera), viu a sua própria coligação a exigir-lhe a retirada do Afeganistão e a manifestar-se contra o alargamento da base militar norte-americana em Vicenza. Contudo, o Primeiro-Ministro italiano consciente da importância da permanência de forças internacionais no Afeganistão, levou a sua política externa a votação no Senado. O resultado da votação (perdeu por 2 votos) e as declarações de d’Alema, o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros, levaram-no a pedir a demissão.

Agora, o futuro próximo de um dos países mais importantes da Europa ainda está em aberto: o Presidente Giorgio Napolitano poderá reconduzir Prodi e convidá-lo a formar novo governo de coligação, provavelmente instável, ou poderá optar pela convocação de eleições antecipadas...com uma possível vitória de Berlusconi.

Esta crise, típica para Itália, dificilmente aconteceria na Grã-Bretanha, na Dinamarca, em França ou na Alemanha pois se o mote da crise foi a presença no Afeganistão, no fundo ela só aconteceu graças às vicissitudes do próprio sistema político italiano.

Em Itália, a fragmentação partidária torna qualquer governo demasiado vulnerável, condicionando assim a governação do país.

Prodi já está habituado a trabalhar com compromissos mínimos desde os tempos da Comissão, veremos se conseguirá levar o seu país a sair de mais um imbróglio...

Demissão de Romano Prodi