sexta-feira, dezembro 01, 2006

Diálogo de civilizações


A Conferência Ministerial Euro-Mediterrânica de Barcelona de Novembro de 2005, manifestou o seu apoio à iniciativa da Aliança de Civilizações (que pretende combater preconceitos culturais fomentando o conhecimento e o respeito pelo outro na tentativa de aproximar o Ocidente e o mundo muçulmano na procura de uma resposta conjunta à ameaça global da violência e da intolerância religiosa e cultural), mas não deixou de revelar as fragilidades deste objectivo quando se trata da concretização de medidas. Com efeito, um dos objectivos da Parceria Euro-Mediterrânica (o instrumento mais apropriado da UE para o diálogo com a região do Médio Oriente e Norte de África) assenta na ideia de uma parceria social, cultural e humana que favoreça o entendimento entre culturas e a aproximação entre os povos das duas margens do Mediterrâneo.

Porém, este é um dos capítulos em que a política da UE para a região mais tem falhado. Antes de mais porque, propondo um maior intercâmbio cultural, a UE tem políticas de imigração que não se coadunam com esta ideia.

Assim, e porque a UE tem objectivos bastante ambiciosos no que toca às suas relações com os países muçulmanos da orla do Mediterrâneo, parece-nos que, no que toca ao diálogo de civilizações, pode fazer muito mais do que apoiar iniciativas como Aliança de Civilizações e, ao invés de se limitar a apoiar uma coexistência pacífica entre povos desafiar verdadeiramente a tese de Huntington, sendo um actor mais activo na formulação de políticas efectivas de promoção da democratização e desenvolvimento dos seus vizinhos muçulmanos, mas ultrapassando a ideia da incompatibilidade entre democracia e islamismo que tem impedido o sucesso das políticas europeias de promoção da democracia na região. Efectivamente, parece que a UE, ao tentar impedir o fortalecimento dos movimentos e partidos islamistas, tem preferido apoiar a manutenção de restrições às liberdades políticas e cívicas impostas por regimes que vão perpetuando as suas políticas de repressão. Daí que se agravem as tensões a sul contra a Europa e que as sociedade do sul do Mediterrâneo se sintam cada vez mais como um parceiro pobre a quem só se dá a atenção que os interesses económicos e securitários implicam.

Afinal, a Europa tem de perceber que, como Kofi Annan já disse, o que separa os dois mundos não é a religião, mas a política!