Europa, Europas
A Europa, para existir, não pode existir.
Ao contrário dos impérios como a China, a Índia ou a Rússia, que puderam impor a unidade, mais ou menos duradoura, de espaços territoriais de escala continental, o que torna única a Europa é ter sempre conseguido opor às tentativas hegemónicas de unificação as virtudes do pluralismo e da diversidade.
Nesse sentido, a Europa são as Europas, um número crescente de entidades autónomas e soberanas que reconhecemos como Estados modernos, membros, quase todos, da União Europeia, que é, ao mesmo tempo, uma associação livre de Estados, uma aliança das democracias e um ideal politico de unidade.
O princípio constitutivo da Europa deve procurar-se na tensão permanente entre a integração regional, cuja expressão institucional decisiva é a União Europeia, a estabilidade dos Estados soberanos e a dinâmica de crise típica das democracias liberais. Porém, desde o fim da Guerra Fria, a hubris dos falsos vencedores quis substituir a regra constitucional europeia por uma deriva cujo desígnio seria a formação burocrática de um império europeu, que assumia a sua superioridade e a sua vocação universal quando se apresentava a União Europeia como uma grande potência normativa. Essa estratégia deslocada foi posta em causa pelos eleitores da França e da Holanda: ao contrário dos neófitos, os membros originais das Comunidades Europeias guardaram a memória dos seus fundamentos constitucionais.
A crise aberta pelos cidadãos franceses e holandeses é profunda e vai resistir às tentativas de contornar a expressão democrática directa como o novo método da construção europeia. Mas é preciso continuar: a Europa faz-se por partes e está tudo por fazer em domínios tão importantes como a segurança e a defesa, os únicos em que a autonomia estratégica europeia se pode consolidar, num quadro de aliança com os Estados Unidos e o conjunto da comunidade democrática internacional.
Carlos Gaspar
Ao contrário dos impérios como a China, a Índia ou a Rússia, que puderam impor a unidade, mais ou menos duradoura, de espaços territoriais de escala continental, o que torna única a Europa é ter sempre conseguido opor às tentativas hegemónicas de unificação as virtudes do pluralismo e da diversidade.
Nesse sentido, a Europa são as Europas, um número crescente de entidades autónomas e soberanas que reconhecemos como Estados modernos, membros, quase todos, da União Europeia, que é, ao mesmo tempo, uma associação livre de Estados, uma aliança das democracias e um ideal politico de unidade.
O princípio constitutivo da Europa deve procurar-se na tensão permanente entre a integração regional, cuja expressão institucional decisiva é a União Europeia, a estabilidade dos Estados soberanos e a dinâmica de crise típica das democracias liberais. Porém, desde o fim da Guerra Fria, a hubris dos falsos vencedores quis substituir a regra constitucional europeia por uma deriva cujo desígnio seria a formação burocrática de um império europeu, que assumia a sua superioridade e a sua vocação universal quando se apresentava a União Europeia como uma grande potência normativa. Essa estratégia deslocada foi posta em causa pelos eleitores da França e da Holanda: ao contrário dos neófitos, os membros originais das Comunidades Europeias guardaram a memória dos seus fundamentos constitucionais.
A crise aberta pelos cidadãos franceses e holandeses é profunda e vai resistir às tentativas de contornar a expressão democrática directa como o novo método da construção europeia. Mas é preciso continuar: a Europa faz-se por partes e está tudo por fazer em domínios tão importantes como a segurança e a defesa, os únicos em que a autonomia estratégica europeia se pode consolidar, num quadro de aliança com os Estados Unidos e o conjunto da comunidade democrática internacional.
Carlos Gaspar
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